Cinema Nacional:

 Nosso cinema passou por várias mudanças ao longo do tempo procurando sua própria identidade, tantas vezes influenciada pelo cinema americano, como em outros países. Se deixarmos de lado o preconceito poderemos encontrar muitas histórias surpreendentes e muito próximas de nosso dia a dia, que por vezes pode causar certo incômodo, como que a exigir um posicionamento. Nos cinemas (salas), se sofre muito com o monopólio das redes americanas que limitam, e muito, a circulação das produções nacionais. O que prevalece “são histórias pouco comprometidas e convencionais, geradoras de um entretenimento sem maiores consequências. O chamado happy end é, geralmente, a fórmula mágica que despacha o público para as agruras da vida real, sem que as pessoas tenham motivação para refletir sobre o que acabaram de ver” (José Tavares de Barros – crítico de cinema). É verdade que nem tudo é ouro ou prata, às vezes é preciso “garimpar” um pouco. A CNBB criou, desde 1967, o prêmio Margarida de Prata para homenagear filmes e vídeos que defendem os valores humanos, sociais e cristãos. A temática religiosa não é obrigatória para premiação. Penso que no site da Conferência podemos ter uma relação dos premiados. Trago alguns dos filmes nacionais que vi e que julgo interessantes...

“Central do Brasil”, 1998. Direção: Walter Sales. Esse foi o filme que quase nos levou ao Oscar de melhor filme estrangeiro (a Argentina segue à nossa frente com dois prêmios nessa categoria, se não me engano), mas esbarramos no “A Vida é Bela”, com uma temática mais próxima do conhecimento e interesse dos gringos. Nós temos a história de Dora, uma ex-professora que ganha a vida escrevendo cartas para pessoas analfabetas, que ditam o que querem contar às famílias. Ela ganha para isso, mas não posta as cartas (uma das faces de nossa pátria). Assim nos encontramos com uma pessoa que perdeu o contato com o afeto tornando-se fria e angustiada. Até que um dia aparece Josué, um garoto de nove anos, órfão de mãe e que deseja reencontrar seu pai. Mesmo relutante, ela acaba por entrar numa aventura que vai mudar a sua vida. O filme leva a uma reflexão sobre o sentido da vida, sobre valores morais e ética. Ganhou a Margarida de Prata (CNBB); Urso de Ouro do Festival de Berlim, Urso de Prata de melhor atriz para Fernanda Montenegro, Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e outra série de prêmios. Vale a pena conferir. Onde ver: Tele Cine Cult.

Trailer do filme Central do Brasil (1998)

“O Pagador de Promessas”, 1962. Palma de Ouro no festival de Cannes, o filme, em preto e branco, nos conta a incrível história de Zé do Burro, que faz uma promessa de carregar uma cruz do tamanho da de Cristo para agradecer pela cura do seu burro. Santa Bárbara lhe teria alcançado a graça. A sua jornada vai se transformando no grande pesadelo. “É tão cruel a visão da humanidade exibida na tela que fica fácil de entender por que o melhor amigo de Zé é um burro” (1001 Filmes Para ver antes de Morrer). O filme mistura religiosidade popular (uma parábola sobre a fé incondicional diante das adversidades), intolerância religiosa e outras temáticas interessantes. Salvador, com seu sincretismo religioso, serve de palco para essa história.  Grandes atuações dão vida a esse belo filme. A Globo tem uma minissérie que toma a premissa do filme e lhe dá um certo colorido.  Foi também indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Onde ver: YouTube.


Filme O Pagador de Promessas (1962)

“Mundo Cão”, 2016. Direção: Marcos Jorge. Nenê (Lázaro Ramos) é um psicopata que tem um de seus cães apreendido pelo Departamento de Combate às Zoonoses. Até então a proibição de abater tais animais não tinha sido promulgada. Nenê chega tarde para resgatar seu animal. Ele resolve descarregar sua frustração sobre o agente Santana (Babu Santana), que não tem a menor noção com quem está lidando. A partir daqui passamos a acompanhar as sandices de Nenê para vingar-se do ocorrido. “Quarto longa metragem do diretor Marcos Jorge, Mundo Cão é primo em primeiro grau de seu filme de estreia, o curioso Estômago, de 2007: como ele, tem um ponto de partida inusitado, a preferência pelo humor negro, a naturalidade para reproduzir na tela as infinitas tonalidades de pele das ruas e o entendimento de como pode ser oblíqua e casual a violência em uma sociedade na qual as leis e regras em geral são encaradas como sugestões de pouca monta” (Isabela Boscov - Veja). Grande Prêmio do Cinema Brasileiro: Melhor atriz: Adriana Esteves; Melhor ator: Lázaro Ramos; Melhor Trilha Sonora. Onde ver: Google Play e YouTube. Censura: 18 anos (violência e nudez).

Cartaz do filme Mundo Cão (2016)

 

 


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